• Home
  • Pages
  • KIT DE FORMAÇÃO – ECONOMIA CIRCULAR

KIT DE FORMAÇÃO

ECONOMIA CIRCULAR

Módulo 1 - Sobre Economia Circular

Neste capítulo, o objetivo é apresentar os aspetos fundamentais da Economia Circular, explorar a sua definição, conceitos-chave e estratégias mais eficazes. Ao compreender estes componentes essenciais, é possível obter uma compreensão simples e clara dos princípios da Economia Circular.

A) O desafio

Desde a revolução industrial, a produção em massa de produtos teve um enorme impacte no meio ambiente e nas pessoas. A economia passou a basear-se num modelo linear, caracterizado por uma abordagem “extrair-produzir-descartar”: extrair recursos naturais e produzir uma variedade de bens, muitos dos quais acabam por se transformar em resíduos.
A economia linear causa diversos problemas ambientais, pois ela não tem em consideração os limites do planeta, enquanto os recursos naturais (dos quais dependemos) são finitos. A extração massiva de materiais e a produção associada de resíduos provoca uma enorme poluição e cria uma pressão significativa sobre os ecossistemas. Isto coloca em risco a prestação de serviços dos ecossistemas essenciais, como a qualidade do solo, do ar e da água.

Assim, o modelo de Economia Circular (EC) é uma alternativa sustentável à economia linear e pretende resolver os problemas ambientais associados.

Modelo de Economia Linear

Diferentes modelos económicos e os seus caminhos Créditos: Circular Economy Portugal

Economia Circular e suas etapas em relação às matérias-primas
Créditos: Circular Economy Portugal.

B) Objetivo e Definição de Economia Circular

O objetivo de uma Economia Circular é dissociar  a atividade económica da extração de recursos naturais e manter o desenvolvimento económico, respeitando simultaneamente os limites do planeta. Outro objetivo fundamental de uma EC é melhorar a qualidade ambiental e, assim, contribuir para a regeneração ecológica (incluindo a proteção da biodiversidade), que é essencial para os serviços dos ecossistemas  saudáveis dos quais as nossas sociedades dependem. Isto requer uma abordagem de poluição zero e a eliminação de quaisquer substâncias nocivas dos produtos e processos.

Economia Circular é um conceito amplo e existem diversas definições. “Um modelo económico em que a entrada e o desperdício de recursos, as emissões e as fugas de energia são minimizados através da desaceleração, do fecho e do estreitamento dos ciclos de materiais e energia” (Geissdoerfer et al, 2017).

Ou seja: numa EC, a extração de matérias-primas é reduzida, os recursos são mantidos em uso por mais tempo e os desperdícios são evitados e valorizados tanto quanto possível.

A transição para uma EC exige uma mudança estrutural em todos os setores da sociedade. Alguns deles têm papel importante, como repensar o design de produtos, criar modelos de negócios mais bem estruturados para a sustentabilidade e políticas públicas mais eficientes são alguns exemplos. Os agentes importantes nesta transição são, portanto, não apenas as empresas e organizações, mas também os decisores políticos, os educadores, os agentes de inovação social, as instituições financeiras, os investidores, o meio académico e os consumidores.

Princípios Circulares Chave

Minimizar o uso e a extração de recursos

As organizações devem ter como objetivo reduzir o uso e a extração desnecessárias de recursos, otimizando as entradas de materiais nos processos de produção. Isto envolve recusar, repensar e reduzir a entrada de recursos, concentrando-se em sistemas de produtos-serviços (servitização) baseados no desempenho, modelos de partilha e desmaterialização.

Manter os produtos em uso pelo maior tempo possível

As organizações devem priorizar manter os produtos em utilização pelo maior tempo possível, mantendo o seu valor. Isto envolve princípios de design circular, como durabilidade e capacidade de reutilização e reparação. A implementação de sistemas de produtos-serviços para renovação, refabricação ou reaproveitamento também contribui para prolongar a vida útil dos produtos.

Fechar ciclos de materiais

Todos os produtos devem ser concebidos tendo em conta a possibilidade de reciclagem. Quando a reparação, a reutilização ou outras estratégias circulares já não forem viáveis, os materiais utilizados nos produtos/componentes devem ser recuperados através da reciclagem circular. Este processo garante que a qualidade dos materiais é mantida ou melhorada, permitindo-lhes substituir materiais virgens em vez de serem reciclados em produtos de qualidade inferior. Contudo, para que a reciclagem seja eficaz, a utilização de substâncias perigosas e prejudiciais ao ambiente deve ser evitada desde o início.

Gestão do ecossistema

A economia circular, como parte da gestão sustentável dos recursos, visa prevenir a poluição resultante das atividades de produção e consumo para garantir a preservação da qualidade ambiental. Numa economia circular, as organizações têm a responsabilidade de salvaguardar ativamente os ecossistemas e investir na regeneração ecológica, melhorando a biodiversidade e restaurando os serviços dos ecossistemas para desfazer quaisquer danos e promover a melhoria ambiental geral.

5. Criar valor duradouro e partilhado

As estratégias circulares proporcionam benefícios económicos através da redução de custos e da valorização de resíduos, ao mesmo tempo que proporcionam vantagens ambientais e sociais, como a criação de emprego. No entanto, uma economia circular difere dos modelos convencionais de crescimento económico, visando benefícios sociais generalizados e de longo prazo. Em vez de se concentrar apenas no fluxo económico, mede a riqueza social, incluindo recursos naturais, culturais e humanos, com o crescimento a refletir a melhoria e o aumento da qualidade e quantidade destas ações.

O Diagrama Borboleta da Economia Circular, apresentado abaixo, fornece um resumo conciso de como os recursos são geridos dentro do modelo da economia circular. Permite visualizar dois ciclos interligados: o ciclo biológico e o ciclo técnico. O ciclo biológico envolve o retorno de materiais orgânicos ao meio ambiente por meio de processos naturais como a compostagem. O ciclo técnico concentra-se na reutilização, reparação, remanufatura ou reciclagem de materiais e produtos para minimizar o desperdício e conservar recursos. O Diagrama da Borboleta destaca a importância de fechar estes ciclos e criar um fluxo contínuo de recursos, levando a uma economia mais sustentável e circular.

Diagrama de Borboleta (Reproduzida a partir do original desenvolvido pela Ellen MacArthur Foundation)
Créditos: BeeCircular

C) Estratégias de Economia Circular

A economia circular é um sistema de produção e consumo que promove a utilização sustentável dos recursos, em ciclos fechados dinamizados por fontes renováveis, regenerando ecossistemas e garantindo o progresso social.

Existem alguns  “R”s de estratégias circulares

que ajudam as organizações a tornar os seus processos mais sustentáveis, a repensar o seu modelo de negócio, a evitar o consumo excessivo de recursos e a ser mais eficazes na manutenção do valor. Estas estratégias complementam-se frequentemente e constituem uma abordagem para alcançar a circularidade e libertar todo o potencial de uma economia sustentável e regenerativa.

Na tabela seguinte podemos identificar as diferentes estratégias, os seus significados e as fases em que se enquadram quando considera-se uma economia mais circular ou mais linear.

Estratégias de R´s
Créditos: Circular Economy Portugal

Estratégias de R´s
Créditos: Circular Economy Portugal